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Conselho Regional de Psicologia Santa Catarina - 12ª Região



IV Seminário de Atenção Psicossocial encerra ampliando discussões sobre povos em situação vulnerabilização social


IV Seminário de Atenção Psicossocial encerra  ampliando discussões sobre povos em situação vulnerabilização social
2019-07-08

A tarde desta quarta-feira, dia 3 de julho encerrou a programação do IV Seminário de Atenção Psicossocial. O evento foi realizado nos dias 1, 2 e 3 de julho, no CentroSul, em Florianópolis. Organizado pelo Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina (CRP-SC), ao longo dos três dias, o evento reuniu mais de 1.300 pessoas, entre profissionais, professoras(es), pesquisadoras(es), usuários, militantes da luta antimanicomial, entidades da Psicologia, universidades e movimentos sociais organizados que formam a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), para debater os caminhos e as melhorias no cuidado integral dos usuários.

Logo após ao almoço foi realizado o Simpósio “Postura ético-político da psicologia frente aos povos em luta por territórios”, com a mediação do professor Paulo Maldos, do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e a participação de Geomar Crendo, liderança indígena de José Boiteux, Jussara Inácio, representante da Associação Brasil é Minha Aldeia (Abrama) e Pai Pépe de Òtoòlú, da liderança de Povos de Terreiro. “Tenho muita esperança na Psicologia nesse momento de luta, de garantia de direitos. Ela nos garante um suporte fundamental.  Obrigado por compartilhar este espaço conosco”, agradeceu o Pai Pépe.

Durante o Simpósio, ele abordou o preconceito contra os cultos de matriz africana e povos quilombolas, fazendo uma conjectura com o passado de escravização e de opressão. “Usamos a palavra ‘religião’ para definir os nossos cultos e fé até como forma de nos proteger contra a intolerância religiosa, principalmente aquelas vindas das igrejas neopentecostais. Mas Nelson Mandela, tem uma frase muito famosa que diz ‘Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se elas podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar também, pois o amor chega mais naturalmente no coração humano do que o seu oposto’. Podemos vencer o ódio”, afirmou.

Para Jussara, a respeito dos estereótipos, preconceitos e violências que os povos em luta por território sofrem, eles só serão quebrados a partir do processo de descolonização do pensamento. “Usamos um academicismo eurocêntrico para justificar nossas pesquisas, vivências e falas. Precisamos rever essa forma de construir novos pensamentos”, diz ela, que representa 40% da população indígena que vivem em centros urbanos, sofrendo diversos tipos de opressões. “Os indígenas fazem essa migração dos territórios para os centros urbanos, por vários motivos, estudo, trabalho, casamentos, fugidos da exploração das barragens e das mineradoras. Diante disso, ficamos marginalizados, sem direitos. Por exemplo, a saúde e a educação diferenciada para povos indígenas só é pensada dentro do contexto dos territórios, como se devêssemos ficar lá confinados. Caso a gente queira sair, perdemos. Nos contextos urbanos isso não é pensado”, argumentou.

Durante a mesa, Geomar Crendo cumprimemtou os presentes em idioma Xokleng e agradeceu a Rede de Psicologia e Povos da Terra. Ele reitera que há mais de um século seu povo vêm lutando por direitos e melhores condições de vida. “Faz 104 anos que houve a pacificação do povo Xokleng. Mas nós ainda estamos aqui na batalha pelo nosso território, ameaçado pelas barragens, que trouxe vários impactos negativos para os povos indígenas, vícios, doenças.O Governo promete e não faz nada, é uma falta de respeito”, relatou.

Outra atividade marcante da tarde foi o Chá das Mina, com as representantes Carolina Pommer, Laís de Farias Roscoche e Tatiane Santana Fuggi, do Instituto Arco-Íris, realizado no Espaço Espaço Mulheres e Psicologia. Sentadas confortavelmente e tomando chá quente, o grupo de mulheres se reuniu para acolher, serem acolhidas e  compartilhar experiências e vivências dentro do espectro de gênero e da vulnerabilização social das mulheres de rua. “Reproduzimos a experiência que fazemos no Instituto. Criamos um espaço de cuidado, autocuidado e escuta pelo afeto”, explicou Tatiane.

As oficinas, realizadas nos três dias do evento, também aconteceram durante a tarde,  com a produção de peças de Artesanato, Argila, Pintura de camisetas e Reflexoterapia. 

Por fim, foi realizada uma homenagem ao CRP-SC feita por um grupo de usuários do Caps da Ponta do Coral e do Instituto Alegremente, que emocionou os presentes. Eles entregaram a cada membro da equipe do Conselho que participou da articulação e da organização do evento, um presente feito artesanalmente pelos próprios usuários. “Agradecemos ao CRP-SC por reconhecer a importância de nós estarmos presentes aqui neste espaço, com voz ativa, explicando o que nós sentimos, vivemos, queremos e precisamos. Nós dividimos com vocês nossas dores e aprendizados. É uma retribuição simples, mas de coração”, declarou Carla Oliveira, presidente da Associação Alegre Mente.

O IV Seminário de Atenção Psicossocial foi uma realização conjunta do Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina (CRP-12) e mais 13 instituições representantes de setores da formação, das associações de sujeitos de direitos e familiares, de trabalhadores da saúde mental e militantes parceiros na sua organização. “Nesse momento de desmonte da Política Pública, sentimos a necessidade de ampliar a comissão organizadora para todos esses atores e juntos pensar Atenção Psicossocial e o fazer da(o) psicóloga(o) em Santa catarina. Foram várias atividades que trouxeram luz para nós”, concluiu Jaira Terezinha Rodrigues, conselheira do CRP-SC.


 


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