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Conselho Regional de Psicologia Santa Catarina - 12ª Região



Debate traz especialistas reconhecidos em saúde integral e humanizada


Debate traz especialistas reconhecidos em saúde integral e humanizada
2016-08-22

Na tarde do dia 11 de agosto, primeiro dia do III Seminário de Atenção Psicossocial, os participantes puderam acompanhar um debate entre duas personalidades da área da Saúde Pública, o médico sanitarista Emerson Merhy e a psicóloga Rosemeire Aparecida da Silva. Com mediação da conselheira do CRP-12, Inea Arioli, o painel foi promovido em parceria com o curso de Mestrado Profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial da UFSC. A professora Magda do Canto Zurba falou da iniciativa de organizar essa atividade como aula magna para a turma que iniciou nesse semestre e enfatizou que o programa de Mestrado tem como objetivo produzir conhecimento aliado às práticas.

Merhy é doutor em Saúde Coletiva pela Unicamp e livre-docente em Planejamento e Gestão em Saúde pela mesma universidade. Atualmente é Professor Titular de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Campus-Macaé, e um dos coordenadores da Linha de Pesquisa Micropolítica do Trabalho e o Cuidado em Saúde, tendo desenvolvido metodologias de investigação pautadas pelos processos de avaliação compartilhadas, nos quais o melhor avaliador é quem pede, quem faz e quem usa.

Ao iniciar sua fala, o médico ressaltou que iria discorrer pela situação atual do ponto de vista social, pois “alguns acontecimentos tem nos deixado alarmado e não apenas o golpe no Brasil, mas em todo o mundo”. Ele afirmou que vivemos um Estado do Direito arbitrário, onde os que podem vão construindo instrumentos jurídicos de acordo com a realidade e muitos foram pegos de surpresa. “Acreditamos que o bom senso vinga sobre a maldade e nós estamos enganados. Não existe a boa razão, isso é uma ilusão de iluministas”, alertou.

Ele discorreu sobre o cenário atual e disse que o mundo está aparentemente enlouquecido, mas que no modo como ele olha a loucura, se o mundo ficasse muito enlouquecido desse modo ia achar até interessante. “Vemos os eixos desordenados. Podemos nos pautar na construção de algumas imagens, como o Mediterrâneo que é um grande cemitério de crianças, adultos, mulheres, homens e idosos, cheio de pessoas que fogem dos conflitos e morrem afogados. São situações que só vimos no holocaust”, afirmou Merhy.

Ao abordar o cuidado e atendimento em saúde mental, ele disse que antes de qualquer coisa os profissionais são sujeitos éticos. “Precisamos ser a favor de que todas as vidas valem a pena. “Não há como fugir disso. No nosso exercício profissional, em qualquer um dos nossos locais de atuação, nos constituímos em sujeitos políticos imediatos. Por isso, fiquemos atentos ao que está em jogo no cotidiano hoje, no Brasil e no mundo e que cuidemos nós do Brasil, pois assim poderemos cuidar de uma parte do mundo”, alertou e complementou: “A tentativa de destruir todos os modos singulares de viver e que não se enquadram nessa ordem tem que ser de nosso interesse”.

A segunda palestrante foi a psicóloga Rosemeire, mestre pela Faculdade de Medicina da UFMG , técnica da equipe do PAI-PJ do TJMG e militante do Fórum Mineiro de Saúde Mental. Ela iniciou sua fala emocionada ao citar Marcus Vinicius Basaglia, dizendo que ele estava presente e que a sensação era de que ele iria entrar. Começou citando uma frase dele sobre o cuidado, quando ele repetia que para esse  atendimento é “preciso deixar abertas as portas do coração”. Para falar de sua experiência, ela ressaltou a subjetividade e a afetividade que são fundamentais. “O encontro entre sujeitos no cotidiano da experiência de cuidado em saúde mental exige isso. É preciso conseguir compreender o louco e agir sobre ele”, disse.

Rosemeire citou ainda a importância de desinstitucionalização e os objetivos do trabalho em formular outra verdade. “Devemos colocar entre parênteses o manicômio e a doença mental. Não é o mesmo que negar a existência da loucura, como fez a anti-psiquiatria. Mas interrogar que tal condição ou modo de expressar o sofrimento, diz sobre o sujeito à nossa frente e como esse o experimenta na relação com os outros e com o social”, contextualizou.

Ela ainda falou de exclusão e inclusão:  “Interpretar alguma coisa na loucura para que possa dizer o que é a verdade do homem. A exclusão é o medo de conhecer o outro que existe dentro de si”, concluiu. A psicóloga ainda falou de exemplos de atendimento e depois das palestras os dois ficaram à disposição para um debate com os presentes que durou mais de uma hora.


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