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Conselho Regional de Psicologia Santa Catarina - 12ª Região



Eixo discute a atenção psíquica na contramão da lógica manicomial


Eixo discute a atenção psíquica na contramão da lógica manicomial
2016-08-22

A mesa de debates do segundo dia do III Seminário de Atenção Psicossocial foi conduzida pela conselheira do CRP-12, Ana Maria Pereira Lopes e discutiu a atenção a sofrimento psíquico que demanda urgência e internação na contramão da lógica manicomial.

O palestrante Walter Ferreira de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME) e membro do GT Desinstitucionalização de Santa Catarina, fez uma reflexão sobre situações de crises. Conforme Walter, a atenção psicossocial lida com a crise a partir de uma ideia de vínculo, e é esse vínculo que vai permitir a aproximação entre profissionais e usuários.  “Na perspectiva psicossocial a crise é uma representação de uma situação contextual e não individual. Acredito que sempre devemos questionar o entendimento das causas. No fervor do dia-dia caímos na armadilha de repetir a ideia que a crise é da pessoa, mas para oferecer o devido tratamento, precisamos entender o contexto”, destacou.

A crise afeta os sentimentos das pessoas tanto no ciclo de vida, em casos de gravidez, divórcio, decepções em relacionamentos afetivos; como também nas relações sociais e institucionais, crise de confiança, decepção com o sistema político e social, entre outras questões.  “A lógica manicomial sempre foi olhar para a doença; a atenção psicossocial tem que olhar para a pessoa, priorizar o vínculo e os fatores sociais”. 

Walter Ferreira reforçou também a importância de tentar compreender o significado da crise, considerando a rede de apoio, sua singularidade e sua subjetividade, além de ouvir os pacientes com respeito e afeto. “Devemos aproveitar a crise para aprofundar o conhecimento da pessoa, condições que a cercam, situações em que está envolvida e outros fatores de seu desenvolvimento pessoal e social, como também explorar possibilidades de criar novas condições e situações, reinventar a vida”.

O psiquiátrica Dr. Marcelo Brandt Fialho, da Prefeitura Municipal de Florianópolis apresentou os resultados de uma pesquisa sobre a percepção dos trabalhadores da saúde sobre o cuidado às crises na Rede de Atenção Psicossocial. O objetivo foi conhecer o cuidado prestado às pessoas em situação de crise em serviços de saúde mental do país, de acordo com o relato dos trabalhadores desses serviços. Na pesquisa foram analisados portfólios reflexivos de 156 trabalhadores.

O estudo revelou a existência de uma larga distância entre a realidade dos serviços e o preconizado pela política de saúde mental do país. Discute implicações para a prática do cuidado em saúde mental e na consolidação de formas de cuidado. “Outro fator que pode originar o atendimento centrado na medicação é que os profissionais podem não estar preparados para prestar assistência a esse tipo de clientela, pela baixa ou nenhuma carga horária dispensada à saúde mental em suas formações”, acrescentou Marcelo.

Nesse sentido, o psiquiátrica ressaltou a importância de disponibilizar cursos de atualização para profissionais que atuam na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), ofertando a possibilidade de ampliar os conhecimentos sobre essas temáticas, articulando com sua realidade de trabalho, analisando e refletindo sobre as formas de cuidados ofertadas. “Devemos manter um olhar reflexivo e contextualizado sobre esses conceitos, pois nem sempre têm sido contemplados nos espaços institucionais e nos serviços de saúde”.

O palestrante considerou que o movimento de reforma psiquiátrica necessita, para sua consolidação, ampliar a implantação de serviços diversificados e comprometidos com a atenção às situações de crise, nos diversos níveis da atenção.

O terceiro e último painel foi conduzido pelo psicólogo Deivid Douglas Carvalho da Rosa que relatou os serviços de emergência psiquiátrica realizado pelo CASP de Criciúma. Ele iniciou sua fala mostrando algumas estatísticas das emergências em saúde mental. As condições mais encontradas no país estão relacionadas com abuso de substâncias (28%), comportamento suicida (15% - 20%) e agitação e agressividade (10% a 30%).

Para Deivid, nos casos de sofrimento agudo, os passos para um bom atendimento estão ligados a autoproteção dos profissionais, proteção do paciente, conduta imediata e objetiva e elaboração de um planejamento terapêutico.  “A conduta deve ser imediata e objetiva.  A vivencia em caso agudo é importante que os psicólogos dêem atenção e orientem os familiares – é muito mais eficiente orientar – e deixar o agravante para a equipe médica”, disse.

O palestrante também explicou as diversas situações que podem ocorrer com os pacientes: De urgência, quando a família está presente, não tem internação e o usuário está bem vinculado e em tratamento; de emergência, quando o paciente mora sozinho e está desempregado com relação familiar instável; e de emergência extrema, quando é encontrado na rua e encontra-se desorientado com evidente uso de drogas e sem informações.  

Os principais desafios dos hospitais gerais com relação ao serviço de emergência psiquiátrica, apontados pelo psicólogo, são “a falta de treinamento da equipe, ambiente não planejado, resistência por parte dos gestores para a implantação, resistência por parte da equipe médica e presente apenas em municípios desenvolvidos”.

Para um atendimento de atenção psicossocial de qualidade, Deivid Douglas foi enfático: “é necessário uma equipe de atenção psicossocial com treinamento especializado e uma equipe multiprofissional (psicólogo, psiquiatra, enfermeiro, técnico de enfermagem, assistente social e administrativo) com recursos estruturais e gestão”.  


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