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Conselho Regional de Psicologia Santa Catarina - 12ª Região



ORIENTAÇÕES TÉCNICAS PARA AS (OS) PSICÓLOGAS (OS) QUE ATUAM NA ÁREA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO (POT) EM TEMPOS DE PANDEMIA


ORIENTAÇÕES TÉCNICAS PARA AS (OS) PSICÓLOGAS (OS) QUE ATUAM NA ÁREA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO (POT) EM TEMPOS DE PANDEMIA
2020-04-17

Apresentação

Este documento visa contribuir para o desenvolvimento das atividades desempenhadas pelo profissional da Psicologia que atua em organizações, especialmente nas áreas correlatas à Psicologia Organizacional e do Trabalho.

Com o intuito de apoiar esses profissionais, formou-se um grupo de trabalho constituído por psicólogas (os) das áreas de Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) e da Psicologia Clínica para indicar algumas orientações técnicas.

O conteúdo aqui descrito cumpre com o Código de Ética Profissional do Psicólogo (CEPP)[1], bem como com as Resoluções vigentes do Sistema Conselho de Psicologia.

Justificativa

O Brasil e o mundo enfrentam uma situação calamitosa sem precedentes: a guerra invisível contra um vírus que ataca os mais fragilizados por fatores etários e de saúde debilitada, assim como os mais vulneráveis, social e economicamente, ameaçando toda a população, direta ou indiretamente. A pandemia provocada pela COVID-19 e as projeções de seus desdobramentos, com base em estudos nacionais e internacionais, indicam taxas de letalidade mundiais atingindo 500 mil pessoas[2]. Se não houver medidas eficazes de contenção ou minimização da contaminação, cálculos estatísticos apontam um cenário de mais de um milhão de pessoas que precisarão de cuidados especializados em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). Em número insuficiente de UTIs para atender às demandas, uma vez esse cenário alcançado, haverá um colapso no sistema de saúde, público e privado.

Atrelada à pandemia, vem o medo pessoas de perder a vida e os seus entes queridos, assim como a redução ou perda dos meios de sustento econômico pessoal e familiar, tendo em vista a condição de quarentena, o que implica no isolamento de doentes e monitoramento de pessoas com suspeita de COVID-19 e dos grupos de risco. O isolamento e o confinamento social de pessoas saudáveis ou, mesmo, portadores do vírus, mas assintomáticos, provocaram mudanças importantes na rotina das pessoas, com impactos importantes na saúde física e mental. O temor pelas consequências da pandemia e as incertezas do futuro, acentuam comportamentos de ansiedade, desespero, busca constante por informações sobre a doença e suas formas de controle.

As medidas governamentais arroladas para mitigação das consequências da pandemia, até o momento, visam achatar a curva de contágio, ainda em crescimento vertiginoso em vários países, inclusive o Brasil. A quarentena é uma medida de saúde pública especialmente adotada em países que permanecem com alto risco de disseminação da COVID-19, ou seja, que enfrentam o pico de transmissão comunitária, obrigando a paralisação de inúmeros setores da economia.

O momento requer equilíbrio e lucidez, com a necessidade de revisão e planejamento  estruturado de ações para enfrentamento dos problemas provocados pelas pandemia, seja na esfera governamental ou privada e, mas especialmente na esfera pessoal e familiar. E uma vida plena pressupõe dispor dos meios necessários para acessar espaços de promoção da saúde e educação e um emprego digno e suficiente para promover o sustento pessoal e familiar, além de lazer e espaços para práticas religiosas. No plano das atividades profissionais é necessário observar os princípios básicos orientadores da conduta ética, previstos pelo CEPP, assim como as diretrizes nacionais e internacionais que priorizam a vida humana.

É nesse contexto tão adverso que a(o) Psicóloga(o) Organizacional e do Trabalho precisa atuar, administrando as demandas oriundas de  empregadores e trabalhadores, no sentido de amenizar os impactos psicológicos e sociais durante e após a crise da COVID-19. Além disso, é importante considerar que as(os) psicólogas(os) estão sujeitos aos efeitos negativos produzidos por emergências e devem estar preparados para oferecer serviços àqueles também afetados pela crise.

Nesse sentido, seguem algumas orientações técnicas importantes:

1.Autocuidado – os profissionais da Psicologia Organizacional e do Trabalho devem atentar-se para as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) de cumprir com os protocolos de biossegurança e manter a higiene das mãos, além do distanciamento social, em prol da integridade física. Quando possível se sugere o trabalho à distância (home office). É importante que a(o) Psicóloga(o) da POT procure gerenciar o estresse pessoal, mantendo hábitos saudáveis, preservando, na medida do possível, a boa alimentação e o horário de descanso, procurando compartilhar suas angústias com colegas e, se necessário, buscar apoio profissional

 

2.Manter-se informado – é relevante que o profissional da POT procure informar-se sobre os acontecimentos por meio de fontes seguras, compartilhando informações somente após verificar a sua veracidade, resguardando-se na conduta de transmitir confiança e credibilidade. Compartilhar determinadas informações  podem tanto acentuar quanto reduzir a ansiedade e o estresse no entorno do profissional. O escolher a informação de boa qualidade e avaliar antecipadamente suas possíveis consequências é uma conduta pessoal e profissional esperada nesse momento de incertezas. Para tanto, são indispensáveis leituras que ofereçam um embasamento técnico e científico, que permitam ao profissional da POT atuar com segurança e profissionalismo. É importante, também, ater-se às Resoluções pertinentes emitidas recentemente pelos Conselhos Federal e Regional de Psicologia, que orientam ações específicas no âmbito do exercício profissional, além do cotejamento dos aspectos éticos associados. Por exemplo: Resolução CRP-12 nº 003/2019  - Atendimento Online: Orientação sobre a atuação da(o) psicóloga(o) diante do COVID-19 e; Nota Orientativa às(aos) Psicólogas(os): Trabalho Voluntário e Publicidade em Psicologia, diante do Coronavírus (COVID-19). Ainda, embora pareça contraditório, é recomendável que se estabeleça um limite para a exposição a notícias relacionadas à pandemia, tanto para a (o) psicóloga (o), quanto para as pessoas que vierem em busca de aconselhamentos e orientações. É indispensável aos profissionais da POT ficarem atentos aos decretos federais, estaduais e municipais, sobretudo com relação às medidas econômicas que estão sendo tomadas para garantir o emprego e a renda dos trabalhadores, pois o medo de perder o emprego pode ser um fator importante no aumento de sintomas de estresse e perda na qualidade da saúde mental.

 

3.Orientação para as lideranças das empresas – é fundamental incluir o empregador na construção de estratégias de enfrentamento para lidar com os possíveis sintomas de transtornos psicológicos que os trabalhadores poderão apresentar, assim como o próprio empregador. São estimados para ambientes de Isolamento, Confinamento e Extremos (ICE), bem como situações de crises e emergências[3], a exemplo de pandemias, a manifestação de sintomas e quadros que requerem estudo prévio para a aplicação das melhores técnicas e instrumentos, assim como os encaminhamentos adequados:

- Sintomas depressivos e ansiogênicos;

- Episódios de pânico;

- Transtorno do Estresse Agudo (estado de choque), que pode evoluir para o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT);

- Alterações do ciclo sono-vigília (insônia e hipersonia);

- Alterações da rotina que afetam o comportamento alimentar, de momentos de estudo e trabalho, consequentemente a produtividade;

- Decaimento cognitivo;

- Transtornos Mentais Comuns (TMC), em especial a fadiga mental e a agressividade;

- Abuso de substâncias; e

- Luto.

As lideranças precisam ser bem preparadas e atentas para relatarem quaisquer comportamentos que indiquem que o trabalhador está tendo sérias dificuldades em lidar com os sentimentos advindos desse momento de crise.

 

1. Abrir um espaço para acolhimento e capacitação em Primeiros Atendimentos Psicológicos  – embora o profissional da POT não atue diretamente com atendimentos clínicos, está capacitado a fazer o acolhimento dos trabalhadores, ouvindo-os atentamente, de forma compreensiva e empática, respeitando-os na sua integridade (cultura, crença e posicionamento político) sem julgamentos. A psicóloga (o) deve providenciar um local reservado para garantir o sigilo do acolhimento realizado com cada trabalhador. Cabe a esse profissional dimensionar o grau de sofrimento psíquico e/ou até mesmo evidenciar o comprometimento por outras patologias, podendo desta forma encaminhá-lo ao serviço especializado. Recomenda-se que a (o) psicóloga (o) da POT possua uma listagem de profissionais, da rede pública ou privada, de diversas áreas aos quais os trabalhadores possam ser encaminhados, inclusive disponibilizando a lista de serviços voluntários que emergiram na pandemia. É importante que a (o) psicóloga (o) estude sobre Primeiros Atendimentos Psicológicos (PAP), atividades que não são restritas à categoria e, portanto, podem ser desempenhadas por outras pessoas na organização. A(o) psicóloga(o) pode capacitar funcionários e líderes a prestar os PAP.

 

2. Acompanhamento – é importante que a(o) psicóloga(o) Organizacional e do Trabalho construa com as lideranças de sua empresa uma rede de parceria que possa atender os trabalhadores que estejam apresentando maior dificuldade em administrar o momento de crise e, assim, recebam o tratamento adequado. O estímulo ao comportamento seguro, especialmente à ação de reportar acidentes, adoecimentos e outras crises, deve ser contínuo, garantindo aos que informem tais incidentes não sejam prejudicados por tal conduta.

 

3. Atuar nas situações de discriminação e estigmas – é relevante que o psicólogo organizacional fique atento a novos conflitos e a outros já existentes, que podem se acentuar nessa fase. Recomenda-se atenção para com os trabalhadores que estejam demonstrando maior fragilidade psíquica, àqueles que decidam por condutas que contrariem o pensamento vigente na Organização ou no Trabalho e àqueles que possam ter resultado positivo para a COVID-19. Caso a(o) psicóloga(o) identifique que algum trabalhador está sofrendo discriminação, humilhação, represálias, entre outros, recomenda-se uma intervenção específica para diminuir os riscos individuais e organizacionais envolvidos. A(O) psicóloga(o) pode realizar intervenções informativas sobre estresse, assédio moral no trabalho, gerenciamento de conflitos em tempos de crise, entre outras, avaliado o tema mais importante para o seu contexto, de modo a contribuir para evitar discriminação entre gestores e colegas. Ao verificar a ocorrência de comportamentos que configurem assédio moral ou discriminação, a (o) psicóloga (o) deve dar os encaminhamentos definidos na organização ou indicar que o trabalhador busque por ajuda especializada fora da empresa

 

4. Comunicação em situação de quarentena e home office - A (O) psicóloga (o) deve contribuir para facilitar a comunicação entre os níveis de trabalho, trabalhadores e gestores/ líderes, oferecendo alternativas compatíveis com as recomendações do Ministério da Saúde e do Ministério do Trabalho, tranquilizando trabalhadores quanto a situação de empregabilidade e traduzindo as ações e planos da gestão de maneira clara e objetiva. É crucial em momentos de crise que os ruídos na comunicação sejam eliminados, reduzindo assim as teorias conspiratórias, “fofocas” e o pânico, já inerentes às perspectivas econômicas difíceis. Se houver discussões acerca de demissões, essas devem ser expressas a todos da organização em questão, abrindo também espaço para dúvidas e sugestões, mesmo de trabalhadores de níveis mais baixos da estrutura. O momento é propício para favorecer a criatividade e a resolução de problemas e todos podem contribuir, se forem solicitados. Quanto ao home office, mesmo que não seja a realidade predominante da organização em que a(o) psicóloga(o) atua, deve-se estabelecer regras que minimizem os danos à adaptação, reduzam os riscos de fadiga e frustração pelo teletrabalho. Algumas dicas nesse sentido foram sintetizadas:

- O trabalho home office deve seguir rigorosamente o tempo de expediente previamente acordado entre as partes da organização, exceto em se tratando de atividades essenciais ou que estejam contribuindo para os serviços que não podem parar.  Mesmo nesses casos, limites devem ser impostos para que não se observe o fenômeno do Burnout (exaustão emocional);

- As atividades que fazem uso de mensagens instantâneas, como WhatsApp ou Telegram, devem priorizar e orientar o recurso escrito, em detrimento de áudios ou vídeos, exceto quando marcadas reuniões. Os textos devem ser objetivos e concentrados em uma única mensagem, para evitar o acúmulo que se perde em uma conversa (geralmente em grupos), permitindo que o recurso de “buscar” seja utilizado, situação que não ocorre com o envio de áudios. Considerando as preferências de cada usuário dos aplicativos, deve-se explicar com cuidado os motivos de tais recomendações, visando a otimização do tempo do trabalho. É aconselhável evitar mensagens triviais, como “bom dia”, ou então “entendi”, ainda que a cordialidade seja importante, mantendo-a somente para as ocasiões em que se tem o contato ao vivo, mesmo que remoto, ou ainda para conversas individuais. As regras minimizam o impacto do teletrabalho e garantem maior produtividade.

- O uso de e-mails deve ser recomendado para organizar sínteses de conversas on-line, especialmente para que as informações principais não se percam, mesmo com as orientações para os grupos de WhatsApp.

- Documentos para edição compartilhada também são indicados para o período de home office, facilitando a comunicação e evitando o risco de retrabalho e perda de informações sendo produzidas em paralelo, o que gera inúmeras versões de uma mesma proposta. O Google, o MSN e o Dropbox dispõem de recursos. nesse sentido, além de outras plataformas para gerenciamento on-line.

 

5. Entrevistas de desligamento – sugere-se que os profissionais que farão as entrevistas de desligamento trabalhem em conjunto com assistentes sociais que possam mostrar alternativas aos colaboradores desligados, no intuito de diminuir a ansiedade destes nesse momento difícil.

 

Leituras recomendadas:

Adhikari, S. P., Meng, S., Wu, Y. J., Mao, Y. P., Ye, R. X., Wang, Q. Z., ... & Zhou, H. (2020). Epidemiology, causes, clinical manifestation and diagnosis, prevention and control of coronavirus disease (COVID-19) during the early outbreak period: a scoping review. Infectious diseases of poverty, 9(1), 1-12.( https://link.springer.com/article/10.1186/s40249-020-00646-x)

Atendimento On-line – Publicação da Resolução CRP-12 nº 003/2019 (http://www.crpsc.org.br/noticias/atendimento-online-publicacao-da-resolucao-crp-12-n-003-2019)

Barros-Delben P, Cruz, R. M., Trevisan, K. R. R., Gai, M. J. P., Carvalho, R. V. C., Carlotto, P.A. C. et al. (2020). Saúde Mental em Situação de Emergência: Covid-19. Rev. Debates em Psiquiatria, Ahead of Print, 2020, 2-12. (https://www.docsity.com/pt/saude-mental-na-emergencia-do-coronavirus/5409882/)

Conselho Federal de Psicologia. (2005). Resolução CFP n° 010/2005. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, DF: CFP (https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=codigo+de+%C3%A9tica+profissional+do+psicologo&btnG=)

Enfrentamento psicológico do COVID 19 - Documento Consenso (https://www.sbponline.org.br/2020/03/enfrentamento-psicologico-do-covid-19-documento-consenso);

Nota Orientativa às(aos) Psicólogas(os): Trabalho Voluntário e Publicidade em Psicologia, diante do Coronavírus (COVID-19) (http://crpsc.org.br/noticias/nota-orientativa-as-aos-psicologas-os-trabalho-voluntario-e-publicidade-em-psicologia-diante-do-coronavirus-covid-19)

Orientação sobre a atuação da(o) psicóloga(o) diante do COVID-19 (http://www.crpsc.org.br/noticias/orientacao-sobre-a-atuacao-da-o-psicologa-o-diante-do-covid-19).

Primeiros Cuidados Psicológicos: guia para trabalhadores de campo (file:///C:/Users/AS/Downloads/GUIA_PCP_portugues_WEB.pdf).

 


[1] Conselho Federal de Psicologia. (2005). Resolução CFP n° 010/2005. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, DF: CFP.

[2]  Adhikari, S. P., Meng, S., Wu, Y. J., Mao, Y. P., Ye, R. X., Wang, Q. Z., ... & Zhou, H. (2020). Epidemiology, causes, clinical manifestation and diagnosis, prevention and control of coronavirus disease (COVID-19) during the early outbreak period: a scoping review. Infectious diseases of poverty, 9(1), 1-12.

[3] Barros-Delben P, Cruz, R. M., Trevisan, K. R. R., Gai, M. J. P., Carvalho, R. V. C., Carlotto, P.A. C. et al. (2020). Saúde Mental em Situação de Emergência: Covid-19. Rev. Debates em Psiquiatria, Ahead of Print, 2020, 2-12.


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